quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Presidente da FIA, Jean Todt defende ida da F-1 para mercados emergentes


De passagem pelo Brasil para promover uma campanha pela segurança no trânsito, o presidente da Federação Internacional de Automobilismo, Jean Todt, analisou a nova realidade da Fórmula 1. Em uma entrevista exclusiva, a maior autoridade do esporte a motor do planeta falou sobre a tendência da categoria em realizar GPs em países com pouca tradição no universo das corridas e do expressivo número de ultrapassagens gerado pelas novas regras. O ex-diretor esportivo da Ferrari também comentou o momento nada favorável de seus antigos pilotos, Michael Schumacher e Felipe Massa.

As novas regras, que foram aplicadas para gerar um aumento no número de ultrapassagens, enfrentaram a resistência de alguns fãs quando entraram em vigor. O senhor as vê como positivas para a categoria?
Jean Todt: Este é um dos papéis da Fórmula 1, desenvolver novas tecnologias, como a recuperação de energia cinética, algo que você pode encontrar futuramente em um carro de rua. Penso que é absolutamente essencial que o carro de corrida contribua para a melhoria dos nossos carros de passeio. Sobre a asa móvel, tem se demonstrado muito eficiente na tarefa e aumentar as ultrapassagens. Muitas pessoas concordavam que não havia ultrapassagens suficientes na Fórmula 1. A influência dos pneus do novo fornecedor também tem sido decisiva, então fizeram um bom trabalho neste sentido. Todo este pacote, com Kers, a asa móvel e os novos pneus tornaram as corridas espetaculares.

Nos últimos anos, diversos países sem tradição no esporte a motor ganharam o direito de receber GPs, enquanto algumas provas tradicionais, como Bélgica e Alemanha, enfrentam problemas financeiros para a realização de suas corridas. Esta Fórmula 1 mais globalizada não corre o risco de se afastar de suas raízes?
É essencial mesclarmos corridas em pistas históricas, como Silverstone, Monte Carlo e Interlagos, com novos países. O mundo está mudando, e hoje é crucial haver GPs em praças como Cingapura, Malásia, China, Coreia e India. Não é necessariamente uma nova Fórmula 1, mas atualmente há muito interesse nos países em ascensão, que atraem muita atenção da mídia, como Abu Dhabi, que tem apresentado uma organização primorosa em seu evento. Temos muito interesse em visitar a Índia, e no próximo ano estaremos de volta à América do Norte, com a prova do Texas. Queremos uma prova na Rússia, então todos estes países serão cobertos pelo calendário da Fórmula 1. Com a proibição dos testes durante a temporada, criou-se uma nova fonte de custos, com o desenvolvimento dos carros em simuladores e túneis de vento. Qual o melhor caminho para a categoria? Às vezes vemos muitos excessos na Fórmula 1. Não limitar os testes era algo muito dispendioso, mas agora, sem testes desde o início até o fim da temporada, também não é bom. Saímos de um extremo ao outro. Neste cenário de excessos, estamos estudando introduzir testes no meio da temporada, utilizando jovens pilotos, o que seria benéfico para todos.

O que acontece com Felipe Massa?
É muito difícil, para mim, dizer o que está havendo. Felipe é um ótimo piloto, uma grande pessoa. Quase conquistamos um título juntos em 2008, quando ele venceu de forma magistral no Brasil. Infelizmente, tivemos problemas no pit stop na corrida de Cingapura, e também uma quebra a poucas voltas do fim quando ele liderava na Hungria. Se não fossem os nossos problemas, sinto que provavelmente ele teria vencido. Depois ele sofreu um terrível acidente em Budapeste, que quase tirou sua vida, mas escapou por milagre e pôde voltar em 2010. Creio que ele tenha tido alguma dificuldade no início, ainda mais tendo como companheiro um dos melhores pilotos do mundo, o Fernando Alonso. Estou convencido que ele voltará em breve à velha forma, e ele merece isso.

Como antigo chefe de Felipe, o senhor teria algum conselho a dar?
Gosto muito do Felipe, o conheci quando ainda disputava um campeonato numa categoria de base na Itália. Naquela época observei seu trabalho cuidadosamente e o contratei para fazer parte de programa de pilotos da Ferrari. Ele se tornou piloto titular por ser um dos mais talentosos de sua geração. É um grande cara, e realmente espero, por ele e pelo, Brasil que Felipe volte aos seus melhores dias. Mas agora sou presidente da FIA, portanto não estou envolvido em seu dia a dia.

Michael Schumacher é outro piloto que o senhor conhece muito bem. Diante dos resultados ruins, seu retorno à Fórmula 1 foi uma decisão errada?
Para o esporte foi muito bom ter um grande piloto como Michael voltando à cena, naturalmente criou muita expectativa. Ele está entre os grandes campeões da história, venceu sete campeonatos na Fórmula 1, cinco deles pela Ferrari, e decidiu encerrar sua carreira aos 38 anos de idade. Sempre ligado em velocidade, se interessou pelas corridas de moto, mas elas são muito perigosas, e teve até alguns acidentes. Michael enfrentou algumas dificuldades em seu retorno no ano passado, mas o sucesso na Fórmula 1 depende de uma série de combinações. Você precisa ser um grande piloto e estar no melhor carro, em um dos melhores times. Acredito que a Mercedes tenha pessoas talentosas, que sejam capazes de fazer uma máquina à altura se seu talento, mas no momento ele não está guiando um dos melhores carros. Atualmente os resultados têm sido desapontadores, mas tenho certeza de que, em um carro vencedor, ele possa demonstrar do que é capaz.

Como o senhor avalia esta temporada?
No início parecia haver um domínio de apenas um time, com a bela combinação entre Sebastian Vettel e a RBR. Porém, de quatro ou cinco corridas para cá, as coisas estão mais competitivas. Já temos quatro vencedores diferentes a esta altura, e espero boas disputas para as próximas corridas. Vettel tem muito talento, mas está guiando um carro muito bom. No momento, ele e a equipe têm se mostrado a melhor combinação, especialmente pelo que fizeram no início da temporada.

O que se pode esperar para o futuro da Fórmula 1?
A Fórmula 1 é um dos esportes mais populares do mundo, desperta muito interesse por onde passa. Sempre estamos vendo algum país querendo sediar um GP. Estou muito feliz em visitar o Brasil hoje e saber que há algo em torno de 45 milhões de pessoas assistindo às corridas, isso é fascinante. O Brasil receberá o último GP da temporada, e imagino que seja um sucesso novamente. Falando pela FIA, que é responsável por todo o esporte a motor no mundo, é importante que estejamos envolvidos em ações pela segurança nas ruas e estradas. É uma parte essencial associar isso ao esporte. O Brasil é um país muito grande, tem 200 milhões de pessoas, e todos os anos 25 mil pessoas morrem no trânsito, enquanto 300 mil pessoas ficam feridas. Espero realmente que diversas ações sejam planejadas e aplicadas para salvar vidas.

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